Ultímas:

Entre Azul e Verde, um Rubro Negro desbotado


Foto: Jornal Extra

Havia muito tempo que não criava ânimo para escrever. Não que agora tenha criado o mais genuíno interesse no assunto Flamengo, mas nada melhor como um desabafo.



Para ficar mais claro, são 03h12min da manhã. Faz frio, uma garoa chata, e acabo de desembarcar da van que nos trouxe da Arena Itaquera. Daqui até minha casa são pouco mais de 2,5 km que, por opção, farei a pé. Decidi caminhar e refletir no que aconteceu ontem.


Ainda do estádio, liguei para minhas filhas; Sabe aquele papo de garantir o futuro da Nação? Pois é. A mais nova, 4 anos, perguntou se eu estava triste com a derrota do “mengo” – é a forma carinhosa com a qual as meninas citam o Mais Querido; Respondi que não. Ela leva as coisas relacionadas ao Flamengo naquela superficialidade natural de qualquer criança. Quer ver o Mengo ganhar para fazer festa e ver o papai ficar feliz.


Já a mais velha, 5 anos, viu o jogo pela televisão e comentou que, ela sim, era quem estava triste com a derrota. Essa é um passo a frente: Chora também quando descobre que viajei sem a levar junto, pois gosta de estádio. Exigiu uniforme completo no dia das crianças com uma ressalva: Tinha que ser o do Paulo Vitor. Ficou encantada com o ambiente no campo, os fogos, o grito das torcidas e claro com o goleiro depois que entrou de mãos dadas com ele em campo - pela primeira vez na vida – no Estádio Independência contra o Atlético MG.


Ali era também a realização de um sonho do pai, que sempre quis entrar em campo quando criança, mas nunca teve a oportunidade. Vivi e me emocionei ao vê-la realizando esse sonho por nós e sei que a conversão dela enquanto Flamengo ocorreu definitivamente ali – como sei que a minha ocorreu contra o mesmo Atlético MG, em um abarrotado Mineirão, nos 3x2 de 1987.


Anestesiados por todas essas emoções, esquecemos que dentro de campo houve uma derrota por 4x1. A terceira por 4 gols em dois anos, diga-se.  


Nessa volta para casa, meu primeiro pensamento é na família. Para uns, acabo de chegar de mais um jogo. Para outros, acabo de chegar de mais um dia em que abri mão da presença delas, esposa e filhas, pelo Flamengo. Seja lá que de lado prefira pensar, são duas verdades.


Mas é assim, em família, que vivemos Flamengo. Direta ou indiretamente. Compramos produtos oficiais, assinamos Premiere, sócio torcedor, sócio proprietário, conselheiro. Muitos compromissos, viagens de final de semana ou férias, são pautadas pelo “onde estiver, estaremos”.


Isso não nos torna diferentes de qualquer outro torcedor Rubro Negro, apenas mostra que algum nível de envolvimento, há. E assim vivemos, equilibrando família e Flamengo.


Como disse, acabo de voltar do estádio do Corinthians. Isso vai e volta na minha cabeça, “Estádio do Corinthians”. Não vou ponderar aspectos éticos e morais dessa construção. Mais dia, menos dia, ela será paga; E aí não poderemos negar: É a casa deles.


De longe, quando desembarcamos na chegada ao estádio, o que vi foram telões e paredes contendo escudos do dono da casa. Você chega e não tem dúvidas de que ali há um clube mandante. Há uma identidade. Com dinheiro publico, superfaturado, inacabado, longe: É deles.  


E assim, de cabeça quente, me vejo cansado desse discurso de que o “Maraca é nosso”. Sejamos minimamente realistas: Não, não é! Pode vir a ser, quero que venha a ser no futuro, mas hoje a relação Flamengo/Maracanã não passa de uma analogia como a de “morar na casa dos sogros”: Você paga a conta por todos. E se não pagar ainda te fazem cara feia, você não ajuda. Sabe aquela cervejinha especial que escolheu no mercado, deixou naquele canto da geladeira para tomar mais a noite? Lamento, teu sogro e teu cunhado chegaram mais cedo, já tomaram e pediram para trazer mais na próxima. Lembra aquele futebol que você queria ver hoje na TV? Esquece, a sogra também quer ver a novela. Então você se fode e procura outra TV: Seja ela em Volta Redonda, Macaé, Brasília, Natal ou quem sabe na Arena da Ilha do Governador.  


Seja lá que força política obteve o Corinthians para alcançar sua Arena – de novo, não quero entrar no mérito dos negócios escusos - não temos uma força igualmente capaz de resolver de vez uma estruturação de estádio para o Flamengo; Se você acha a comparação incabível por todo o contexto, usemos então exemplos menos obscuros como a Nova Arena Gremista, ou a Baixada do Atlético PR, Independência, Allianz Parque. Alguns locais onde assim como Itaquera, os torcedores rivais possuem um saudável e satisfatório orgulho de quem “manda em casa”.


Estar na restrita lista de clubes importantes sem estádio próprio no Brasil só escancara essa incomoda discrepância.


Pouco antes de começar a partida, um dos telões apresenta o “histórico do confronto” dentre as equipes. Quando pequeno, me amarrava em ver nossa superioridade de vitórias sobre a maioria dos clubes pelo Brasil. Mesmo na derrota, não havia argumentos a um sonoro “me diz aí, quem tem mais vitórias?” E o que observo é que vagarosamente estamos perdemos a antes incontestável hegemonia, nesses últimos anos. Triste.


Durante o jogo, as torcidas se provocam. Cantávamos “Ao ao ao, segunda divisão”. Não sei mais se isso é nossa atual grande conquista, ou se uma mancha na história do rival. Convenhamos, adiantaria cantar que “A copa do Brasil eu tenho três, o Brasileiro já ganhamos seis”?! Não.


Enquanto desde 1990 ganhamos 2 títulos Brasileiros, 3 da Copa do Brasil e uma Mercosul, o rival levantou seu estádio próprio, seus 5 (já quase 6) títulos Brasileiros, suas 3 Copas do Brasil, Libertadores, dois Mundiais, Recopa....


Fruto de uma autoconfiança arrogante, plausível a quem vem passando por cima nos últimos 25 anos, saímos do estádio ouvindo o coro de “pqp é a maior torcida do Brasil”.


Se é que você ainda não entendeu, o coro vinha do lado de lá do estádio... E se o acha absurdo, sarcástico ou algo do tipo, pergunto: O que eles eram 25 anos atrás frente ao que são hoje? Seria esse o último grande trunfo do torcedor Rubro Negro, o fato de sermos a maior torcida do Mundo? Não parece pouco? Desproporcional a tudo o que essa mesma torcida devota a seu clube?


E aí nesse misto de questionamentos me pergunto: Quantos anos mais serão necessários para novamente obtermos a primazia, para voltarmos a olhar qualquer rival “de cima para baixo”?!


Histórico de confrontos, títulos, estrutura... em tudo isso, estamos ficamos para trás de muitos clubes brasileiros. Para tudo isso, é necessário sair do discurso e trazer efetividade. Lembrando que essa promessa não é minha, mas da Chapa “Chapa Fla Campeão do Mundo” onde azuis ou verdes, todos pareciam dispostos a isso.


Chego em casa, atualizo minha leitura de mensagens no WhatsApp e, dentre outras tantas opiniões, uma me preocupa: “Mantenhamos a calma, pois esse é momento de eleição” – O momento do futebol não pode abalar nossas convicções sobre o desejo de um Flamengo maior.


Ok. É uma frase cruelmente verdadeira: É a partir do que decidirmos nas urnas que o futuro do Futebol, maior produto da “empresa Flamengo” terá seu caminho desenhado. E seja lá qual o seu envolvimento com o Flamengo, considere você ele maior ou menor do que os demais, todos queremos o fortalecimento do clube. Fato.


Mas a revoltante realidade é de que estamos vivendo mais uma campanha pífia do futebol do Flamengo. Mais uma!

E no meio de tantas cores de chapas políticas e da ausência de efetivos resultados em campo, sejam elas do passado e do presente, o Rubro Negro segue ano após ano cada vez mais...  desbotado.



Hermínio F. Corrêa @Herminio_Correa

2 comentários:

  1. Belo texto. Penso o mesmo sobre o maracanã e a necessidade de termos nossa casa. Nem q seja um barraco compartilhado, como faz o At. MG no Independência com o América MGMG.
    E como lamento dizer isso, pq acreditei totalmente nas promessas azuis de 2012, mas estamos vendo nascer no CRF uma nova casta de CORJA.
    Onde o q importa são seus interesses pessoais e o futebol do Flamengo entregue à ratos e vagabundos.
    Que pena do meu Flamengo. Seu futuro é sombrio

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  2. É amigo, assino em baixo, hoje qualquer time que enfrenta o flamengo não tem mais aquele medo, me lembro em 2009 os times jogando recuado, com medo do mengão.

    Em 2011 mesma coisa, hoje qualquer time joga em cima do mengo, sabe que se fizer 1 gol o flamengo não vai ter força pra empatar/virar...

    Parece que o time está se apequenando, e a torcida tenta empurrar mas não da pra fazer milagre, o futebol do flamengo precisa mudar pra ontem!

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